quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Frozen


Sabem aquela altura em que não têm qualquer controlo sobre o vosso próprio corpo??
Que estão a ouvir-vos falar, e têm a nitida sensação que, apesar da voz e as palavras serem vossas, não são vocês que o estão a dizer?
Que se sentem a mexer, mas os gestos não são vossos?

Isso aconteceu-me a mim.

Estava na capela, e fiquei mesmo de frente para o corpo.
Estive lá, apesar de me apetecer correr para fora da capela.
Estive lá, apesar de as pernas me tremerem tanto que não sei como me aguentava em pé.
Estive lá, não fugi. Não sei como.

Não ouvi os tipicos berros que me habituei a ouvir em todos os funerais em que não consegui entrar (nem na igreja nem no cemitério) e se calhar isso foi o que me custou mais.
Havia um silêncio ensurdecedor, apenas interrompido pela má tentativa do padre a ler passagens da biblia.
Um silêncio pesado. Daqueles capaz de ensurdecer qualquer pessoa.
Olhava em volta, e inumeras lagrimas caiam em silêncio.
Conseguia-se sentir a dor.

As pessoas não foram falsas só porque parecia bem.
Os filhos choravam em silêncio.
O Kim, de todos o qual me é mais próximo, tinha o olhar mais triste que alguma vez lhe vi.

Quando pegaram no caixão, para levar para o cemitério, parecia que estavam a carregar o mundo.
Um passo pequenino de cada vez.. curto, indeciso.
Como se não fosse, e certamente não era, naquele sentido que o queriam levar.

Custou imenso.
Doeu bastante.
O pior é que só hoje, quando entrei na capela, é que tomei noção dos factos.
Disseram-me que tinha morrido, mas foi como se tivesse sido outra pessoa qualquer.
Na capela foi diferente, e o sorriso.. o sorriso dele não me saía dos pensamentos.
Sempre tão caloroso. Sempre sincero. As conversas divertidas, e todas elas o foram.
Senti saudades. Senti dor. E o silêncio ensurdecedor não ajudava nada. Deixava o meu cerebro livre para pensar e recordar. E a cada pensamento ficava pior.
As pernas a tremer mais. Juro que não sei como me mantive em pé.

Ainda agora, aqui, no meu porto de abrigo, toda eu tremo, só de recordar.

Nunca pensei que fosse capaz de aguentar até ao fim.
E verdade seja dita, não consegui vê-los a meter o caixão na terra.
Aí fugi.
Aí quase que corri para fora do cemitério, só não corri porque parecia mal.
Mas era essa minha vontade, fugir para longe, para um lugar qualquer.
Fugi para o carro, parecido? Nem por isso.

E agora? Vou fugir para a cama.



You only see what your eyes want to see
How can life be what you want it to be
Your frozen, when your heart's not open
Your so consumed with how much you get
You waste your time with hate and regret
You're broken, when your heart's not open

If I could melt your heart
We'd never be appart
Give yourself to me
You hold the key

Now there's no point in placing the blame
And you should know I suffer the same
If I lose you, my heart will be broken
Love is a bird, she needs to fly
Let all the hurt inside of you die
You're frozen, when you're heart's not open

(...)
You hold the key

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