domingo, 25 de maio de 2008

Restolho


Ando meia perdida num livro (Mercy, de Jody Picoult), e uma das personagens (quando acabar de ler faço-vos um resumosito), afirma convictamente que numa relação em que ambos se amem, o 'tamanho' do amor é diferente, nunca é 50-50. Pode ser 60%/40%, 70%/30% e é claro inumeros outros valores mas nunca igual.

Ao ler isto, parei a leitura e meditei sobre o assunto. Que tipo de amor será o meu?
Será a maior ou a menor parcela? Pensei no passado, e no presente, e nunca as parcelas foram iguais e apesar de em algumas ter sido eu a gostar menos (pelo menos é o que me parece quando penso nisso), tenho a certeza que sou eu, quase sempre, que gosto mais, que me entrego mais, que 'faço' mais.

Apesar de nem sempre ser eu a primeira a apaixonar-me, sou eu que me entrego de corpo e alma, porque acho que é assim que deve ser feito. Sou eu que tento todos os dias fazer algo pra trazer um sorriso a alguém. Sou eu que tento sempre que os outros não percam o sorriso que trazem. Mesmo que apenas goste (e não ame) a pessoa em causa.

Gosto que quando as pessoas (uma de cada vez) estão comigo estejam bem, se sintam bem, estejam felizes, faço tudo para arrancar sorrisos num dia cinzento. Não consigo deixar de ser assim. E, de certa forma não me arrependo. (:

Foi perdida nestes pensamentos e lembranças que me lembrei que isto não só se aplica numa relação amorosa. Também se aplica na amizade. Aplica-se em quase tudo no dia a dia. A principal diferença é que as percentagens podem atingir valores mais baixos. Digamos que numa relação 95%-5%, de um lado possivelmente já não é só amizade ou então já não iria querer saber da outra pessoa para nada, visto que ela quase não lhe passa cartão, e podemos ainda por em causa se será de facto amiga da pessoa que tem a parcela de 95%. Acho que é nestas alturas que nos apaixonamos, e caso a outra pessoa se apaixone de volta, será sempre a parcela maior a permanecer maior.

No meio disto tudo, é claro que nos questionamos se isto será justo. Possivelmente não é. Não considero injusto também. O facto de amarmos alguém 60%, e esse alguém nos ame apenas 40%, não significa nada, e, correndo o risco de ser lamechas, essa pessoa poderá continuar a amar-nos com todo o seu ser, simplesmente tem menos capacidade. Apenas significa que nós amamos mais, que possivelmente sofreriamos mais, não necessáriamente que façamos mais pela outra pessoa, tal não está implicado ainda que seja o mais provavel.

Penso que quem tem a menor parcela também é provavelmente o que trai. Não obrigatoriamente!! Apenas quero dizer que, numa relação, consideranto que a relação corresponde a 100%, a pessoa cuja parcela é inferior a 50%, das 2, caso exista uma traição, será essa pessoa a faze-la.

Ainda assim questiono-me se isto é possivel fazer, atribuir percentagens ao amor.
É certo que existe alguém que ame mais, mas daí a meter-lhe uma percentagem é tornar algo inexplicavel quase num facto matemático/cientifico quando, no meu ver, não é assim tão simples.

É nesta altura que me questiono e vos questiono a voces também:
Até onde seriam capazes de ir por amor? Seriam capazes de matar o objecto do vosso amor porque ele assim vos pede?

E deixem-me explicar, o livro (ainda por acabar), fala de um Assassinio de grau 1 (Murder 1). O marido mata a esposa a seu pedido. A esposa sofria de cancro e estava a mata-la aos poucos, começou no seio, segui-se para o cerebro onde a privou da sua visão, sabendo-se lá onde ia atacar a seguir, a esposa não queria morrer assim, não queria sentir-se a ir aos poucos, não queria passar por aquilo, e faz o pedido ao marido, que ele concretiza.

Será que ele a amava muito ou pouco?
Quer dizer, muitos de nós se calhar optavamos por vê-la morrer aos poucos com a justificação que ao menos continuava connosco, mas não seria isso egoismo puro da nossa parte?
Obrigar alguém a sofrer porque a queremos do nosso lado?

O que vocês fariam em tal situação?

Na minha opinião, não me vejo a ser capaz de tirar a vida de alguém, mesmo sendo a vida de um desconhecido. Seria eu capaz de matar a minha cara metade só porque ele me pedia? Sendo isto algo que muito provavelmente nunca terei que enfrentar, atrevo-me a dizer que não. Mas não sei até que ponto será um não 100% certo. Tendo em conta que acho que nunca amei realmente, pergunto-me se isto não será dito da boca pra fora, e se ao amar, não seria eu capaz de fazer realmente tudo (inclusivé matar pela pessoa em questão).

Bem, vá contribuam aí com opiniões, vamos lá ver se consigo voltar a trazer a inspiração voltar à vida.
Já agora, resolvi começar com uma rubrica, e só para o Niu não dizer que o copio, a rubrica sairá todas as terças (se isso me for possivel) e ainda não lhe escolhi o titulo, mas será sobre livros, essencialmente livros que li, outras alturas talvez apenas livros que me falaram e etcs. Como ler um livro nem sempre é algo que se faça de um dia pró outro, e como os livros também estão caros, não prometo que seja algo semanal. Mas vamos lá ver como isto corre :) Vamos lá ver se ao menos faz com que isto esteja menos tempo parado.


Geme o restolho, triste e solitário
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário

Geme o restolho, preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem cor e sem vontade

Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver

e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração

Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo
semear no pó e voltar a colher
há que ser trigo, depois ser restolho
há que penar para aprender a viver

e a vida não é existir sem mais nada
a vida não é dia sim, dia não
é feita em cada entrega alucinada
prá receber daquilo que aumenta o coração

Mafalda Veiga - Restolho


P.S.: Ia-me esquecendo de vos fazer raiva, terça feira vou ver a selecção!!!!!! :D lalalalalaaaa
AI Miguel Veloso, Miguel Veloso ;P (no meu caso com ele a relação é 100/0, visto que ele nem sabe q eu existo! LOl ;P )

2 comentários:

Daniela Valente disse...

As pessoas dizem que sem saude e sem dinheiro, nao se vive como se quer. Podem ter a sua razao, que têm com toda a certeza. Mas nesta definição deveria vir que a solução é o amor. Nao resolve a 100%/100%, mas ajuda.diria eu: mais de 50%/50%!!

quando estamos felizs ao lado de quem amamos, a vida parece k corre melhor e parecemos capazes de enfrentar o mundo. quando estamoss infelizs em relação ao "amor" parece que o mundo vai a baixo e nada corre bem!

qd temos pouco dinheiro e/ou pca saude, c as pessoas que amamos ao nosso lado TUDO se supera mais facilmente! e kd ha mt dinheiro e mta saude, nada faz sentido pk nao temos o AMOR!

Li atentamente o que escreveste... e acho que por amor as pessoas sao capazes de tudo.sim! Quando estás ao lado dela sofres com ela, nao sentes a mesma dor, claro que nao! mas sofres muito, pelo que lhe está a acontecer e por veres a pessoa que amas triste.

N penso que amor é só amar um homem com quem queremos constituir familia... o amor engloba, pai, irmao, mae, amigos...

Eu seria incapaz de matar alguem que amasse... numa situação dessas as pessoas questionam-se smp (digo eu):

Mas e se matar for um acto de amor?

tambem é uma questao a pensar...

bjo pa tu! gostei do post!

Niu_esi disse...

Epa depois deste comentário não há grande coisa a dizer, concordo plenamente com a Daniela.
Quando estamos felizes especificamente falando do amor tudo o resto nos corre bem, o tempo passa mais rapido e tudo parece que está no lugar certo. Já me aconteceu isto num ano, passou demasiadamente depressa quando olho para tras mas pronto.

Quanto a matar o nosso amor só mesmo nunca situação como no livro e mesmo assim uma decisão do tamanho do mundo, só quando estamos nela é que nos podemos decidir...

Acho que fazes bem em meter o belo do post à terça! ;) Eu também tenho mais dias reservados, são mais metas apenas para mim, por exemplo à quinta sai um textozinho e à sexta ou sabado um video . :P

E só para te fazer roer na semana passada estive a tirar fotos com o Deco no Governo Civil! hihi :D

Desculpa me ter alongado mas teve de ser!

Bjocas